No final de 2019 a humanidade foi apresentada a uma novo vírus, que até então não havia infectado humanos: o agora chamado SARS-CoV 2, que causa a doença COVID-19 (Doença do Coronavírus 2019). O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China, e pertence à família Coronaviridae, gênero Betacoronavirus. Algumas espécies desse gênero já eram conhecidas como causadoras de patologias em humanos, como o SARS-CoV e MERS-CoV.
Especula-se que o epicentro da doença seja a província de Wuhan, na China, e que o vírus tenha sido transmitido através do contato com algum animal silvestre (possivelmente um morcego ou pangolim). Nesta província, animais silvestres são vendidos ainda vivos para consumo em um mercado específico para este fim. Estes animais são retirados do seu habitat e colocados em gaiolas sujas, onde sofrem diversos ferimentos e vêm a morrer – com sede, fome e passando os seus últimos dias em um ambiente insalubre. Cabe lembrar que vírus como HIV e Ebola chegaram aos humanos justamente pelos hospedeiros terem sido retirados da selva e colocados em ambientes urbanos.
Em 1988, a China estabeleceu uma lei de proteção da vida selvagem e que nunca foi atualizada desde então. No documento, são citadas 54 espécies permitidas para comercialização e consumo. Entre elas, há texugos, crocodilos, hamsters e até centopéias. Em fevereiro, devido ao surto, a China baniu permanentemente todos os mercados de animais selvagens com uma nova lei, tendo o objetivo de prevenir zoonoses (doenças que são transmissíveis dos animais para humanos e vice-versa).
A partir de agora, “é proibido caçar, comercializar e transportar animais selvagens terrestres que crescem e se reproduzem naturalmente na natureza com a finalidade de alimento”. Esta restrição já não era sem tempo, visto que não devemos dispor da vida destes animais, seres sencientes, como bem entendermos – não há a menor necessidade de retirá-los de seu habitat, usá-los como bem quisermos e, ainda por cima, submetê-los a situações degradantes nos últimos instantes de suas vidas.
Como já mencionado, os coronavírus pertencem à família Coronaviridae. Os vírus desta família são uma realidade rotineira na clínica veterinária desde os anos 1960, com a descoberta do vírus da Bronquite Infecciosa em criações comerciais de galinhas e, ao longo desse tempo, inúmeros agentes importantes de doença respiratória e entérica (intestinal) foram descritos em outras espécies. Os alfa e beta coronavírus geralmente infectam mamíferos, enquanto os gama e delta coronavírus geralmente infectam pássaros e peixes. O coronavírus canino, que pode causar diarréia leve, e o coronavírus felino, que pode causar peritonite infecciosa felina (PIF), são ambos alfa-coronavírus. Esses coronavírus não estão associados ao atual surto de coronavírus.
Pode-se observar que, embora pertençam à mesma família viral do SARS-CoV-2, os vírus que infectam os animais domésticos (cão e gato) e os que infectam seres humanos estão em gêneros distintos. Sendo assim, os vírus do cão e do gato não infectam seres humanos e não representam risco à saúde pública, bem como não existem evidências de que cães e gatos possam ser uma fonte de transmissão para outros animais ou humanos.
Cabe ressaltar que no sistema vacinal do cão há a vacina polivalente, também chamada de V8 ou V10. Esta vacina protege o animal contra o seu tipo específico de Coronavírus, ou seja, ela não deve ser aplicada em humanos e não é eficaz contra o SARS-CoV-2.
Embora tenha sido noticiada a detecção molecular do vírus nas secreções respiratórias de um cão pertencente a uma pessoa portadora de coronavírus em Hong Kong, não há outros casos relatados a respeito. As autoridades duvidam que o cão, que foi colocado em quarentena, esteja realmente infectado, mas sim que captou traços do vírus por proximidade ambiental, como uma maçaneta de porta ou controle remoto da TV. No dia 16 de março o animal, que tinha 17 anos, veio a óbito. Apesar disso, não apresentou sintomas e foi liberado da quarentena dois dias antes, após testes adicionais produzirem resultados negativos.
Apesar de não haver qualquer evidência de transmissão de animais domésticos para humanos, há relatos de inúmeros casos de abandono de animais na China. Os habitantes estão indispostos ou incapazes de cuidar deles em meio a condições de bloqueio e receios equivocados de contaminação. A confusão sobre o animal que iniciou o surto levou ao abandono cruel de animais e a atos de heroísmo para salvá-los também de abates do governo. Os abrigos para animais, que na sua maioria não possuem licença e funcionam através de doações e trabalho voluntário, estão superlotados.
Gostaria de finalizar este artigo com um apelo: repassem as informações aqui contidas para o maior número de pessoas possível. Espero que, assim, evitemos a desinformação e, consequentemente, abandono e violência contra animais, ao menos em nosso país.
Fonte: Portal Anda